Pasta de Amendoim [Eileen Myles]

Estou sempre faminta
& querendo
transar. Isso é um fato.
No fundo,
a nova pasta
de amendoim não-processada
não é lá muito
boa & deve ser
comprada em pote como
sempre no
maior mercado
que você conhece. E
eu sou uma inimiga
da mudança, como
você sabe. Todas
as coisas que eu
acolho como novidade
são de
fato coisas antigas,
re-relançadas: nadar,
a sensação de
estar suja de
corpo e espírito,
o verão como uma
época para não
ganhar dinheiro. Rezar
como um último re-
curso. O prazer
como um meio,
depois como
um meio de novo
sem nenhum fim
em vista. Sou
totalmente contrária
a qualquer tipo de
meta. Não tenho
nenhum desejo de saber
aonde isso, nada disso
está me levando.
Quando a água
ferve eu ganho
uma xícara de chá.
Acidentalmente li
todas as
obras de Proust.
Era verão
eu estava lá
ele também. Eu
escrevo porque
gostaria de ser
usada por
anos depois
da minha morte. Não
só o meu corpo
servirá de adubo,
mas também os pensamentos
que deixei durante
minha vida. Durante
a vida fui
uma mulher de
olhos castanhos. Para além
da janela
há um silo
torto. Partes
do seu
corpo considero
como listras
pelas quais
aprendi
a amar. Nós
nadamos nuas
em lagoas &
escrevo lon-
ge dos seus
olhos. Meus pensamentos
sobre você
não são exatamente
proibidos, mas
exaltados porque
inúteis,
não são para
te pegar
porque eu já tenho
você & você me
ama. É mais
como um parquinho
onde brinco
com o meu reflexo
de você até
que você volte
e eu possa enfiar
meus dentes
em você
de verdade. Com
você eu sei como
relaxar. &
então eu trabalho
longe dos
seus olhos. É
bonito.
A natureza
está fora de controle,
você diz &
é a melhor
parte de tudo
isso. Estou imoderadamente
apaixonada por você,
nocauteada por
todos os seus novos
cabelos brancos

por que algo
que eu
sempre tive
não deveria
ser o melhor
que há. Eu
amo você desde
a infância
desde o tempo
quando
um dia era
igual aos
outros, crescimento
aleatório e
brisas, amor
constante, um sandu-
íche no
meio do
dia,
um minúsculo passo
no caminho
imensamente
convencional do
Sol. Eu aperto
os olhos. Eu
pisco. E
vou
nessa.

[Eileen Myles] [tradução Mariana Ruggieri, Camila Assad e Cesare Rodrigues] [Edições Jabuticaba] [2019]

–X–

Peanut Butter

I am always hungry
& wanting to have
sex. This is a fact.
If you get right
down to it the new
unprocessed peanut
butter is no damn
good & you should
buy it in a jar as
always in the
largest supermarket
you know. And
I am an enemy
of change, as
you know. All
the things I
embrace as new
are in
fact old things,
re-released: swimming,
the sensation of
being dirty in
body and mind
summer as a
time to do
nothing and make
no money. Prayer
as a last re-
sort. Pleasure
as a means,
and then a
means again
with no ends
in sight. I am
absolutely in opposition
to all kinds of
goals. I have
no desire to know
where this, anything
is getting me.
When the water
boils I get
a cup of tea.
Accidentally I
read all the
works of Proust.
It was summer
I was there
so was he. I
write because
I would like
to be used for
years after
my death. Not
only my body
will be compost
but the thoughts
I left during
my life. During
my life I was
a woman with
hazel eyes. Out
the window
is a crooked
silo. Parts
of your
body I think
of as stripes
which I have
learned to
love along. We
swim naked
in ponds &
I write be-
hind your
back. My thoughts
about you are
not exactly
forbidden, but
exalted because
they are useless,
not intended
to get you
because I have
you & you love
me. It’s more
like a playground
where I play
with my reflection
of you until
you come back
and into the
real you I
get to sink
my teeth. With
you I know how
to relax. &
so I work
behind your
back. Which
is lovely.
Nature
is out of control
you tell me &
that’s what’s so
good about
it. I’m immoderately
in love with you,
knocked out by
all your new
white hair

why shouldn’t
something
I have always
known be the
very best there
is. I love
you from my
childhood,
starting back
there when
one day was
just like the
rest, random
growth and
breezes, constant
love, a sand-
wich in the
middle of
day,
a tiny step
in the vastly
conventional
path of
the Sun. I
squint. I
wink. I
take the
ride.

[Eileen Myles] [Not Me] [1991]

 

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s